Dino Bambino é um cara bacana, mas a vida dele nunca foi fácil. Cada conquista era muito sofrida e algumas não conquistas, um tanto dramáticas. Ouso dizer que transitam entre o drama e a comédia. Mas enfim, o fato é que dizem por aí que ele só pode ter a alma mexicana.
Lá por volta dos seus dezessete, dezoito anos, num belo sábado de céu encoberto, na cidade de Santos, litoral paulistano, sua dedicada mãe bate à porta do quarto e o convida para ir visitar uma amiga. Ele nega na hora, dizendo que o dia não está legal e que prefere ficar em casa. Não satisfeita a mãe persiste:
– Olha Dino, a mãe não se engana. Essa amiga da mãe tem uma filha que é uma graça.
– Ah, mãe! A senhora sempre fala isso e é só baranga, eu não vou de jeito nenhum.
– Filho, desta vez vem comigo que você não vai se arrepender.
Após tanto empenho, cede aos caprichos da mãe e topa ir conhecer a tal da filha da amiga dela. Chegando lá, a surpresa. Não é que a menina é maravilhosa.
Com um sorriso daqueles, ele puxa a mãe de cantinho e fala:
– Mãe, obrigado! Muito obrigado! Pela primeira vez a senhora acertou.
E a mãe cheia de orgulho protesta:
– Eu te falei. Viu! Tem que escutar mais a mãe.
E lá estavam eles, no décimo andar do edifício, num daqueles apartamentinhos de quarto e sala, compacto. A mãe fica na sala confabulando com a amiga. Dino Bambino e a deusa decidem ficar na sacadinha do apê. Sabe aquelas sacadas que só cabem um? Então, essa mesma. Dino agradece novamente.
O papo rola solto entre eles. É blá blá blá pra cá. Ti ti ti pra lá. E ele, com toda a percepção que lhe cabe, tem certeza que a menina já está na dele.
E é no meio desse clima de romance, que de repente, bate uma vontade súbita de ir ao banheiro. Na hora, ele pensa: “não vou sair daqui agora, tô me dando bem”.
O papo continua.
Daqui a pouco, de novo, sente outra chamada, popularmente falando, beijou a cueca. (Tirem as crianças da sala).
Neste momento, ele começa a suar frio e a menina preocupada pergunta se está tudo bem. Ele confirma e desconversa. Até que depois de mais alguns minutos, já desesperado, ele toma coragem e pergunta onde é o banheiro. Ela responde.
O caminho milimetricamente curto até o tal lavabo parece uma eternidade. O desalento é tanto, que ele abre a porta, abaixa as calças e senta sem pensar em nada. Mas o estrago já está feito. Dino Bambino sente aquele calorzinho no bumbum. Apavorado se dá conta de que não tinha levantado a tampa do vaso e pra completar, escorrega, espalhando caca por todo lado, na camiseta, no pescoço e até no cabelo,
Quando se dá conta da cena, se vê dentro do lavabo da menina, com a luz apagada e com borra até o cabelo. Como se não bastasse, ao acender a luz, constata que o banheiro 2×2, tem uma mini cuba de latão, com torneira padrão atual de economia d’agua, a pinga gotas, uma mini toalhinha de crochê para secar as mãos e duas folhinhas de papel higiênico. O fim do mundo, ou pelo menos, o fim do caminho que o levaria de volta à sacadinha.
Dino, o azarado. Respira e percebe, num misto de tristeza e irritação, que um minuto antes estava tudo lindo e agora, tudo tinha ido pelo ralo. No caso, pela tampa.
Pra tentar ajeitar do jeito que dá, ele abre a porta e chama bem baixinho pela mãe:
– Mãe! Mãe!
A genitora responde alguns tons acima:
– Que foi Dino. Não incomoda. A mãe tá proseando.
E lá daquele lugar inóspito, ele insiste:
– Mãe! Vem aqui.
Desta vez, estressada, a mãe responde, encaminhando-se para o lavabo.
– Ai! Dino. A menina tá te esperando ali e você me chamando.
Ela abre a porta, perplexa, pula pra trás e exclama em alto e bom tom:
– Dino, meu filho, você tá todo cagado.
Resumo da história, ele sai do apartamentinho da deusa, vestido com a roupa do pai da dela, devastado, arrasado e promete pra si mesmo que nunca mais vai visitar as amigas da mãe e muito menos demorar para evacuar o partido.
Mas a história, que é verídica e me foi contada por um amigo, neste final de semana, não acaba por aqui. Após passaram-se uns seis meses, Dino Bambino está caminhando pela rua, quando escuta uma voz chamando do alto:
– Dino! Dino!
Ele olha pra cima e vê aquela deusa do acontecido, na micro sacada do apartamento. Rindo da cara dele. Para não perder a piada, ela reitera com tirania:
– Dinoooo! E a tampa?
Depois dessa, Dino exclui o Bambino do nome e nunca mais voltou para Santos. Hoje, está morando em Los Angeles e toda vez que conta a história pros amigos, chora de raiva.